Não peças explicações
Célia Laborne
O dia vai rodar ainda. Mas já tenho
quatro horas na mão que não devo trocá-las com ninguém. O nada, hoje, está
povoado. Recuso-me ao tédio. Passei em revista girassóis perfilados e margaridas
novas. A parada estimulou-me.
Ouvi coisas fabulosas sobre a vida e
acreditei nelas, num retrospecto quase de infância. Cúmplice das histórias
auri-vermelhas que me penduraram, dancei moderna sobre o tablado mais novo. Por
um instante, convido-os à credulidade.
Hoje é dia da espiral do silêncio
profundo como uma prece heroica. O sol, três vezes afastado, voltou à rua e
acendeu, perto dos pés, grãos coloridos de areia. O asfalto quase o refletiu.
Não há dúvida, o dia é de surpresas.
Ponha azul nos olhos e estenda flores
nos varais. Não peça explicações, não exija provas. Se necessário, comova-se,
mas não tente compreender.
Ouço passos, ouço vozes. Retenho a
respiração. A porta, de certo vai abrir-se e alguém brincará de descoberta. Se
houver vitória, empresta-lhe tua coroa.
Transpus o muro da distância e passei
duas horas de mãos dadas com a ternura. Guardei dela ainda uma palavra para
libertar a música presa em pautas muito antigas. Vi morrerem líricas
recordações de um passado que não era meu e passei a frequentar um presente
verde de olhos surrealistas e mãos de aço. Agradou-me a troca.
Trancaram-me no vermelho das rosas para
uma experiência fantástica e nunca fui tão viva. – Compartilho-a contigo se o quiseres.
Desta janela posso chamar a chuva e dizer
um verso ao amigo predileto. Tenho quatro horas na mão e vou visitar o arco-íris
para contar-lhe que a Terra descobriu todos os seus segredos.
Depois, a noite poderá submeter-nos a
seus problemas. Estaremos fortes e, quem sabe, ainda com um sorriso. Porém, por
certo, ainda sem explicações.
Recebido da autora via e-mail. Conheça seu Blog "vida em Plenitude" clicando aqui.
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