Retorno
Célia Laborne Tavares
De repente, aquela ideia esquisita de estar voltando à infância, ou o pensamento, um pouco alarmante, de não haver saído dela.
As palavras ficaram suaves demais, para quem tivesse ao colo o acúmulo dos dias e o resíduo das amarguras que ficam com o correr da vida.
Parecia o pedaço solto de um tempo antigo!
Súbito, um desapego aos desenganos e as derrotas, um desprezo ao medo como a um desconhecido, até mesmo um desejo de vitória, um sorriso de conquista.
E os olhos, trazendo qualquer coisa de puro e infantil, querendo fazer realidade dos sonhos, aprendendo – talvez contigo – a se sentirem vivos e dizerem carícias.
Até as mãos, num aconchego confiante de quem apenas despertou, movem-se.
De repente, aquela saudade do tempo em que não havia sido chamada e apenas flutuava na vida. Quando toda distância era transponível e os caminhos generosos...
Saudade do primeiro contato com a luz e de seu milagre, dos lábios que não sabiam falar, dos olhos que foram nossos, da primeira madrugada sem noite, da alma latente ou da vibração inicial que modelou a vida.
Retorno aos passos de surpresa e de promessa e às notas pianíssima. Ideia esquisita de regresso à infância ou de permanência, por um instante nela, morando entre brinquedos e conhecendo a primeira dádiva. Sussurro de vozes pequenas ou de barquinhos na água.
Segredo espontâneo do gesto e do riso, como se houvesse franqueza em tudo.
De repente – tu não o advinhas? – uma palavra nova, pouco além de um balbucio leve, ou um canto sem rima certa.
E aquele contato de mãos macias, colhendo pétalas, e o beijo terno que não se prolongou no tempo.
Por um momento, apenas o roçar da infância – agora sem saudade – como um regresso secreto ao ponto-de-partida, para uma visão mais clara da meta percorrida e de chegada.
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