ONIPRESENÇA
Célia Laborne
Tomemos com carinho, a palavra Onipresença. Vamos tentar fazer com que ela seja mais que uma palavra escrita ou oral; vamos dar-lhe vida própria. Sentir seu ritmo, sua expressão direta.
Podemos começar tocando-a, em sua dimensão mais densa e estendendo-a até o limite de nossa compreensão humana. Para isso é preciso usar nossa sensibilidade mais profunda, nossa mais apurada investigação, nosso querer mais vigoroso. É preciso concentrarmo-nos e abrirmo-nos à sua realidade.
Envolvendo-nos na Onipresença, vamos tentar dividi-la, dissecá-la, tomá-la como alimento, bebê-la como filtro mágico para que ela seja abordada em todos os seus sentidos mais sutis. Vamos tentar crescer, dentro dela, deixando que se infiltre em nós por todos os poros. É necessário usar todos os sentidos para tocá-la.
Só assim chegamos ao portal de seus mistérios, às suas vivências mais íntimas. Sugando-lhe a seiva, aspirando-lhe o hálito forte, entramos em comunicação com ela e podemos nos deixar comandar pela realidade de sua presença. Tentemos, juntos, encontrar sua chave de realização e penetrar seu mais caro segredo. Vamos convidar, suplicar, convencê-la a se revelar a nós. Todas as técnicas serão válidas nesse esforço.
- E por que tudo isso, poderão indagar os curiosos.
Simplesmente, porque nela está a vida, o poder, a libertação. Nela o jogo se acaba, a verdade brilha plenificando o ser humano.
A Onipresença quando é pressentida torna-se garantia de paz e integração humana; tudo mais se faz supérfluo. Nela está a explicação, o prêmio, a revelação. Nela pode-se mergulhar e esquecer todas as coisas, pois ela é a certeza de que sempre somos e seremos, e de que tudo está em seu devido lugar na hora certa.
Habilitar-se a expressar, em grau maior, a Onipresença é tarefa para Mestres e gigantes espirituais. Entretanto, pode-se sempre tentar o grau inicial de sua comunicação, a faixa primária de seu esplendor já divisada. A palavra é simplesmente o símbolo da idéia e sua investigação correta leva-nos ao seu significado em novas dimensões.
Por vezes a mente pára e se indaga como chegam a ela os momentos de interna comunhão com as belezas emanadas do todo universal. Por vezes a mente se espanta com seu elevar-se e cair repetido, com seu iluminar-se e apagar-se sucessivos, com a total capacidade de comunicar-se e seu bloquear-se repentino.
São gotas da Onipresença que vêm e se extinguem. A mente se faz misteriosa ante suas próprias criações e sua possibilidade incrível de perceber o Criador e a Criação, distinguindo, a realidade do sonho, a paz da inércia.
A semente do espírito espera em nós a época própria de germinar, de anular-se para que a Árvore da Vida surja, floresça e frutifique. Então os dedos purificados manejam as correntes da Onipresença na grande dança universal dos mundos interligados.