terça-feira, 16 de abril de 2013

"A rosa, hoje foi posta em tua mão"...


Pressentimento

Célia Laborne Tavares

* Partimos para as auroras – e pouca gente o percebeu – porque pressentimos os primeiros caminhos da luz. Além dos árduos processos de busca, no país da paz, a flor se entrega ao persistente indagador.

É preciso primeiro, colher cristais sob as areias do deserto, ou junto às nascentes do rio, porque sua transparência pode surgir nos lugares mais imprevistos e, na hora da colheira, todos os cristais refletirão a luz. 

Seguiremos, então, leves mensageiros dos bosques povoados, enquanto nos forem solicitadas as comunicações; enquanto de nossas palavras toscas brotarem as sementes certas. (Leves mensageiras do amor universal que pede participação a cada dia, em cada porta). Portadoras do primeiro acordar em festa, da primeira palavra de alegria viva, vamos nos revelando.

** O tempo, em ebulição, está à espera de antigas lições, de solicitações sábias para o novo crescimento. No país de todos, as revelações são as metas maiores que muitas vezes se atrasam, mas sempre se fazem presentes de uma forma ou de outra.

Sem o perceber, partimos, como aladas companheiras das estrelas para as esferas mais altas que transcendem os engenhos humanos e se candidatam ao amor em plenitude; ou como pequena irmã de libélulas, volteia-se em torno da luz até tornar-se a própria luz.

*** Portando nas mãos o archote do tempo vamos saindo das eras mais sombrias para o amanhecer de auroras translúcidas, onde cada qual começa a distinguir o seu roteiro, muito próprio e intransferível.

O passado é tão somente o alicerce que sustenta a nova estrutura e se faz raiz viva de seiva ou sangue, para a maturidade dos frutos ainda não colhidos.

Quem já se recolheu ao silêncio e confidenciou a ele suas dúvidas mais profundas, começa a receber surpreendentes respostas – e nem sempre sabe como compartilhá-las tão sutis são as mensagens, tão fantásticas as revelações iniciais.

Mais cedo ou mais tarde, toda a Terra será um berço fértil na madrugada que desponta e as palavras serão fracos marcos para a orientação dos caminhos. Quando as palavras começam a adormecer, as realidades da vida se implantam e ninguém poderá escapar às suas verdades, à beleza que se abre quando a fantasia dá lugar ao brilho das descobertas.

**** Cada silêncio mais íntimo, mais interior, é como o iluminar de noites velhas, como o desfazer de sonhos maus, como o participar da grande festa. 

O simples pressentir das lições do silêncio desfaz as mágoas mais enraizadas, harmoniza todas as vibrações, reconcilia todas as lutas. E agora, é o tempo próprio para se começar a difundir as lições do silêncio perfeito. A rosa, hoje foi posta em tua mão.

In, "O Quinto Lotus", por Célia Laborne Tavares, edição da autora.
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quinta-feira, 4 de abril de 2013

"Ponha azul nos olhos e estenda flores nos varais"...


Não peças explicações

Célia Laborne

O dia vai rodar ainda. Mas já tenho quatro horas na mão que não devo trocá-las com ninguém. O nada, hoje, está povoado. Recuso-me ao tédio. Passei em revista girassóis perfilados e margaridas novas. A parada estimulou-me.

Ouvi coisas fabulosas sobre a vida e acreditei nelas, num retrospecto quase de infância. Cúmplice das histórias auri-vermelhas que me penduraram, dancei moderna sobre o tablado mais novo. Por um instante, convido-os à credulidade.

Hoje é dia da espiral do silêncio profundo como uma prece heroica. O sol, três vezes afastado, voltou à rua e acendeu, perto dos pés, grãos coloridos de areia. O asfalto quase o refletiu. Não há dúvida, o dia é de surpresas.

Ponha azul nos olhos e estenda flores nos varais. Não peça explicações, não exija provas. Se necessário, comova-se, mas não tente compreender.

Ouço passos, ouço vozes. Retenho a respiração. A porta, de certo vai abrir-se e alguém brincará de descoberta. Se houver vitória, empresta-lhe tua coroa.

Transpus o muro da distância e passei duas horas de mãos dadas com a ternura. Guardei dela ainda uma palavra para libertar a música presa em pautas muito antigas. Vi morrerem líricas recordações de um passado que não era meu e passei a frequentar um presente verde de olhos surrealistas e mãos de aço. Agradou-me a troca.

Trancaram-me no vermelho das rosas para uma experiência fantástica e nunca fui tão viva.  – Compartilho-a contigo se o quiseres.

Desta janela posso chamar a chuva e dizer um verso ao amigo predileto. Tenho quatro horas na mão e vou visitar o arco-íris para contar-lhe que a Terra descobriu todos os seus segredos.

Depois, a noite poderá submeter-nos a seus problemas. Estaremos fortes e, quem sabe, ainda com um sorriso. Porém, por certo, ainda sem explicações. 


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