quinta-feira, 4 de abril de 2013

"Ponha azul nos olhos e estenda flores nos varais"...


Não peças explicações

Célia Laborne

O dia vai rodar ainda. Mas já tenho quatro horas na mão que não devo trocá-las com ninguém. O nada, hoje, está povoado. Recuso-me ao tédio. Passei em revista girassóis perfilados e margaridas novas. A parada estimulou-me.

Ouvi coisas fabulosas sobre a vida e acreditei nelas, num retrospecto quase de infância. Cúmplice das histórias auri-vermelhas que me penduraram, dancei moderna sobre o tablado mais novo. Por um instante, convido-os à credulidade.

Hoje é dia da espiral do silêncio profundo como uma prece heroica. O sol, três vezes afastado, voltou à rua e acendeu, perto dos pés, grãos coloridos de areia. O asfalto quase o refletiu. Não há dúvida, o dia é de surpresas.

Ponha azul nos olhos e estenda flores nos varais. Não peça explicações, não exija provas. Se necessário, comova-se, mas não tente compreender.

Ouço passos, ouço vozes. Retenho a respiração. A porta, de certo vai abrir-se e alguém brincará de descoberta. Se houver vitória, empresta-lhe tua coroa.

Transpus o muro da distância e passei duas horas de mãos dadas com a ternura. Guardei dela ainda uma palavra para libertar a música presa em pautas muito antigas. Vi morrerem líricas recordações de um passado que não era meu e passei a frequentar um presente verde de olhos surrealistas e mãos de aço. Agradou-me a troca.

Trancaram-me no vermelho das rosas para uma experiência fantástica e nunca fui tão viva.  – Compartilho-a contigo se o quiseres.

Desta janela posso chamar a chuva e dizer um verso ao amigo predileto. Tenho quatro horas na mão e vou visitar o arco-íris para contar-lhe que a Terra descobriu todos os seus segredos.

Depois, a noite poderá submeter-nos a seus problemas. Estaremos fortes e, quem sabe, ainda com um sorriso. Porém, por certo, ainda sem explicações. 


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