terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O que fala em mim

Célia Laborne Tavares
in O Quinto Lotus



Agora já não canto o tempo, o céu, o vento que se agita.
Guardo esta pequena voz para o que vem a mim e se divide em ternura e verdade.
Hoje digo a palavra do que fala no silencioso mundo de um interior que se vai iluminar.
Canto, à fonte da vida, os hinos do caminho.


Perdidos estão os contatos exteriores com a terra e, quando dela germina o trigo, ouço apenas o canto daquele que tem o germe e conhece o tempo da colheita. Quando as flores se fazem vistosas e perfumadas, penetro-lhes até a seiva para conhecer o desdobramento da semente que, madura, começa a revelar segredos.

Agora já não canto meu canto; tenho a palavra do que fala em mim e, conhecendo cada passo, fortalece o tempo de espera, desvenda e explica cada novo degrau. E, por isso, tenho passos despreocupados que dançam na busca do caminho, certos de que todas as estradas são de vida e há um roteiro para cada um.

Hoje calei minhas palavras para estudar o silêncio e captar os sons do universo, onde se arma a sinfonia das realidades mais profundas. Já não posso estar só, porque a comunhão com o todo dissolve as barreiras da mente isolada que cria a fantasia das ausências e da solidão.

No limiar das portas do amor as plenitudes começam a esboçar-se como semi-reveladas pela névoa. E, de repente, no meio do torvelinho, a terra torna-se doce e serena para que doce e sereno seja o coração.

Mansa é portanto a palavra que, agora, canta em mim. E conhecendo sua força, fácil é entregar-me ao leve despertar. E, se hoje conto este caminho não é pelo simples gosto da história, mas por saber que os roteiros são mais ou menos semelhantes em seus marcos primários. Faço-me presença para aquele que também busca.

Agora, já não quero o tempo, o céu ou o vento. Ensinaram-me o caminho das estrelas, o transbordamento do orvalho, o crescimento do amor que se faz aurora com o canto dos pássaros e revelação, com o conhecimento da beleza em sua fonte original.

Anuncio a festa que ainda não conheço, mas posso pressentir, porque as vibrações de seus clarins chegaram-me cada vez mais perto e a descoberta não pode mais tardar.

A cada madrugada, em cada entardecer, a comunicação se estabelece mais nítida e a presença mais certa.

Sabendo que acordar em plena madrugada, quando a luz tudo promete, é o destino de todos, grato se torna fazer um silêncio imenso enquanto canta em mim aquele que se realizou em manhãs mais sutis e, agora, estabelece correntes de amor para que outros se ergam.



Conheça mais no Blog da autora: Vida em Plenitude

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