sábado, 18 de junho de 2011

Saber cuidar: a ética do humano


"8. Cuidado com a nossa alma, anjos e os demônios interiores

A alma, a semelhança do corpo, representa a totalidade do ser humano na medida em que ele é um ser vivo com interioridade e subjetividade (anima em latim significa ser vivo, donde deriva animal). Desde o primeiro momento após o big-bang, quando se formaram os primeiros campos energéticos e se forjaram as primeiras unidades relacionais, a alma começou a surgir e a complexificar-se, até que, no nível humano, após o surgimento do cérebro e da base neurônica, se tornou reflexa e autoconsciente. Possivelmente tal emergência ocorreu a partir do homo Ardipitecus Ramidos, há 4,5 milhões de anos, passando pelo homon habilis, há cerca de 2 milhões de anos, pelo homo erectus, há 1,6 milhões de anos, pelo homo sapiens arcaicus há 250 mil anos te culminar no homo sapiens sapiens há 150 mil anos. Deste último, com consciência plenamente reflexa, somos descendentes diretos.

Conhecemos hoje os níveis desse tipo de consciência e sua capacidade de guardar informações do processo evolutivo. Isso significa que a consciência humana guarda marcas da grande explosão primordial, do fragor das explosões das grandes estrelas vermelhas que jogaram seus materiais pesados por todo o universo; conserva a memória das circunvoluções de nosso sistema galáctico, solar e planetário, das dores de parto na formação de nossa casa comum, a Terra; conserva o estremecer da primeira célula viva há 3,8 bilhões de anos; guarda em si os sinais da violência devastadora dos dinossauros, da capacidade unificadora do primeiro cérebro nos répteis, da ternura dos primeiros mamíferos, das alegrias da sociabilidade dos nossos ancestrais, antropóides; lembra da luz do primeiro ato de intelecção, da criatividade da fala ordenadora do mundo, enfim dos grandes sonhos ridentes de simpatia e convivialidade, bem como dos medos face às ameaças do meio e face à luta pela sobrevivência. As experiências traumatizantes na relação com os pais, com o homem e a mulher, com o nascimento, a dor e a morte, com o Sol, a Lua e as estrelas, com a grandeza do céu estrelado deixaram matrizes na alma humana cuja força de atuação se faz presente até os dias de hoje. É a nossa memória ancestral e atual.

De certo modo, tudo, tudo está guardado dentro da consciência humana sob a forma da memória (subatômica, atômica, mineral, vegetal, animal, humana), nos arquétipos, sonhos, visões, símbolos, paixões e moções que habitam nossa interioridade. Somos portadores de anjos e de demônio; de forças sim-bólicas que nos animam para a unidade e para a cooperação, e de forças dia-bólicas que desagregam e destroem nossa centralidade.

Mas o ser humano é portador de liberdade e de responsabilidade. A liberdade lhe é dada como capacidade de modelar essa matéria ancestral e o mundo ao seu redor. A liberdade lhe é dada como possibilidade para decidir se cultiva os anjos bons ou os demônios interiores. A ele cabe criar uma medida justa de equilíbrio, tirando partido da energia dos anjos e dos demônios e colocando-a a serviço de um projeto que se afina com a sinergia e a cooperação do universo. É sua chance de felicidade ou de tragédia.

Eis um desafio ingente: o de cuidar de nossa alma interior. Cuidar dos sentimentos, dos sonhos, dos desejos, das paixões contraditórias, do imaginário; das visões e utopias que guardamos escondidas dentro do coração. Como domesticar tais forças para que sejam construtivas e não destrutivas? Em que sentido de vida ordenamos todas estas dimensões? O cuidado é o caminho e oferece uma direção certa."

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