segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Revelação

Célia Laborne Tavares
in O Quinto Lotus
Foi da profundidade muito tranqüila e transparente, de serenos lagos, que nasceu esta forma flutuante. Pois quando a paz se cristaliza as verdades podem revelar-se.

A forma se tornou particularmente nova, surpreendentemente antiga, cheia de aparentes paradoxos, como uma ponte em suspenso sobre um passado que cumpriu o seu destino e um presente que se prepara para ser iluminado.

Falo-te, hoje, como se conhecesse a canção, como se penetrasse o lago. Desenho-me imóvel, sob a tarde, para prosseguir as pesquisas num interior que se abre à menor luz.

Flor da terra, muito úmida e fresca, brota-me a palavra para quebrar teus limites, teus muros de antigas separações e mostrar-te onde ficam as nascentes, os caminhos ensolarados, as terras de encontro. Doce e breve flor do reencontrar transformo-me para que tenhas teu sinal visível no roteiro.

Brandamente, uma melodia que podia ser mística, tal a suavidade das notas, introduz-se em nosso silêncio compacto para apressar as revelações. E, ao comando de vibrações puríssimas, podemos facilmente completar a história que nos foi dada para que novos companheiros de vestes alaranjadas se sentem ao nosso lado.

Sinto que devo dizer-te que vai nesse encantamento um mar imaturo, imagem quase infantil à espera de crescimento. Não sei porque só posso traduzir em flores a linguagem estrangeira que se deve integrar nas noções da vida real para que seja alcançado o meu dever de intérprete.

O mundo apagado e convulso rebela-se esquecido das potencialidades vigorosas que devem ser cultivadas, parcela por parcela, até que cada um forme sua unidade de paz e sabedoria.

Por ora, um céu de astronautas em pânico cobre algumas cabeças em ebulição e, por mais alto se gritem as verdades, poucos estão aptos ao convívio das estrelas.

Por isso, digo-te, não te apegues aos destroços que não te satisfazem, não sejas um náufrago entre idéias e correntes, inconformado, mas sem coragem de ousar entrar pela porta das grandezas. Onde não entrarás se não te fizeres simples.

Não se é feito para ficar sempre no mesmo lugar ou para girar sobre si mesmo, na superfície, como piorra infantil. O mergulho em profundidade é que dá dimensão certa à vida. E a verdade livre é estável, amorosa, consoladora, porém extremamente exigente em seu preço de luta e resgate, para o encontro consigo mesmo e a meta final.

Põe a pérola na concha de tua mão.

Estamos em pleno tempo de cobrança.



Conheça mais no Blog da autora: Vida em Plenitude

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